“Com efeito, os capítulos que se seguem traçam um arco narrativo que percorre nove variações sobre o tema do multiverso. Cada uma delas vê nosso universo como parte de um todo surpreendente e maior, mas a compleição desse todo e a natureza dos universos que o compõe diferem fortemente entre elas. (…) Imaginar quão ampla a realidade pode ser é algo que nos entusiasma e, ao mesmo tempo, nos faz mais humildes”.
Física quântica é um ramo da física cercado de “mistério”. Sua teoria é tão complexa e inacessível aos pobres mortais, que muitas vezes o termo quântico é usado por pseudo-cientistas para vender produtos com propriedades milagrosas ou livros de autoajuda. Já a ideia de universos paralelos é para a maioria das pessoas é coisa de filme ou livro de ficção cientifica. Mas eis que surge A Realidade Oculta e você descobre que pode sim entender física quântica e (incrível) que universos paralelos podem existir!
Esse é um livro surpreendente. Muitas vezes uma obra de divulgação cientifica acaba sendo um livro que só envolve o leitor que já está familiarizado com o tema tratado, já que a linguagem, apesar de simplificada, continua sendo “hermética” para os leigos. No caso de A Realidade Oculta, o autor Brian Greene, une simplicidade e rigor técnico para explicar temas que são complexos até mesmo para os cientistas que lidam com eles (vale a pena destacar o trabalho incrível da tradução brasileira e do cuidado com a revisão técnica, num livro como esse não deve ter sido um trabalho fácil, mas foi belamente executado).
Nesse livro, Greene “traduz” para o público em geral os mais recentes desdobramentos na área da física quântica e teoria das cordas e o que esses desdobramentos revelam: a possibilidade da existência de universos paralelos. Para isso, ele começa com uma introdução sobre Teoria da Relatividade e a Teoria Geral da Relatividade, e é aqui que começamos a perceber como esse livro é legal: Greene escreve para todos os níveis de leitor. Se você é alguém familiarizado com as teorias de Einstein, você pode “pular” alguns tópicos, se você não é, continua a leitura. Para os leitores que têm conhecimento em física e matemática (ou é curioso), ele tem notas no fim do livro que aprofundam os temas que ele aborda no texto do livro. Se você é um leitor “café com leite”, pode ficar com as notinhas de roda pé. É um livro adaptável ao nível do leitor, eu achei isso incrível!
A seguir ele detalha os princípios de física quântica para chegar à ideia multiversos e, a partir daí, ele se aprofunda no tema: teoricamente, se são finitos ou infinitos, como surgem, como a cosmologia através da teoria da inflação (expansão super rápida que teria acontecido logo após o Big Bang) pode ter relação com o multiversos. Depois, temos teoria das cordas e a ideia dos mundos-branas, que seriam universos em “bloco”, que flutuam num espaço infinito com muitas outras dimensões além da nossa. E, a partir daí, ele trata do desdobramento da hipótese dos universos paralelos, como são feitos os cálculos, quais as possibilidades de se comprovar essas hipóteses, o que os cientistas já sabem e o que ainda é “especulação” e como estão as pesquisas sobre esse tema.
Apesar de não ser um livro difícil de ser ler, é um livro para ser lido devagar, as ideias que ele expõe às vezes são tão além da nossa realidade, do que é tangível no cotidiano das pessoas que é preciso, muitas vezes parar para refletir o que se leu ou retornar o parágrafo e ler de novo. Mas isso não é algo que tira o prazer da leitura desse livro. Cada página, cada capítulo que você termina é uma peça de um quebra-cabeça fascinante, é sempre uma surpresa. E, à medida que você vai lendo, vai ficando cada vez mais fascinando com a ideia dos multiversos e como os cientistas trabalham para chegar a essa hipótese.
No primeiro capitulo, na página 20 Greene escreve: “Minha intenção, portanto, é expor, com clareza e concisão, os passos intelectuais e o encadeamento teórico que levaram a física a considerar, a partir de perspectivas diversas a possibilidade de que nosso universo seja um dentre muitos. Desejo que você aprenda o conceito de que as pesquisas cientificas modernas- e não as fantasias catóptricas de minha infância- surgem com naturalidade essa extraordinária possibilidade. (…) Meu objetivo é que quando você terminar a leitura do livro, sua percepção de como ser pode ser a realidade - sua perspectiva sobre como as fronteiras da realidade poderiam ser, um dia, reconfiguradas pelos desenvolvimentos científicos de nossos dias – seja mais rica e mais vívida". Posso dizer que ele alcançou seu objetivo: não tem como não enxergar a realidade mais rica e mais vívida. Eu posso dizer que mudou radicalmente a minha forma de ver a realidade.
Fonte: O Espaçador
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