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terça-feira, 1 de março de 2016
Luxo e Ostentação melhoram o mundo (?).
Ainda hoje, há cartolas defendendo que a "ostentação deveria ser crime previsto no Código Penal" e que os ricos, num país tão pobre e desigual, não deveriam queimar o limite do cartão de crédito com produtos de luxo. Associar a exibição de riqueza ao vício e ao pecado é uma ideia antiga, perene e equivocada.
Era parte do discurso moralista religioso que predominou até a Revolução Industrial.Como o dos Quakers, protestantes que se recusavam a participar de banquetes, comprar porcelanas, roupas com rendas e fitas, cortinas e móveis finos. Ou o do jesuíta Robert Parsons, para quem, tão logo o catolicismo fosse restaurado na Inglaterra, as pessoas deveriam voltar " para a sua velha simplicidade, tanto na aparência, na dieta, na inocência da vida e na simplicidade dos modos".
A ideia de que há alguma pureza ou superioridade moral na pobreza começou a perder força com o Iluminismo britânico. Um dos primeiros a defender o consumo sem culpa foi Bernard Mandeville, um ensaísta político holandês radicado na Inglaterra. Mandeville considerava o consumo uma parte da característica natural e legítima do homem buscar conforto, prazer e autorrealização.
Em 1709, ele chegou a propor, ironicamente, leis que obrigassem as pessoas a comprar roupas novas todo mês, móveis todo ano e comerem pelo menos quatro vezes ao dia. Adam Smith e David Hume, os expoentes do Iluminismo britânico, também defenderam que o luxo ampliava o comércio e as oportunidades de emprego para os pobres. " O esforço uniforme, constante e ininterrupto de todo homem para melhorar sua condição, o princípio do qual a opulência [...] é originalmente derivada, é poderoso o suficiente para manter o progresso natural das coisas em direção à melhoria", diz uma das frases mais famosas do pai da economia moderna.
Mandeville, Hume e Adam Smith estavam certos. Para um produtor ou comerciante, não há incentivo melhor à inovação e à criatividade que gente disposta a pagar mais caro por coisas que ninguém tem. Num mercado sem barreiras e monopólios estabelecidos pelo governo, não demora para concorrentes incorporarem o espírito chinês e oferecerem o mesmo produto por preços menores.
Foi por meio dessa roda de inovação, concorrência, imitação e popularização que, hoje, mesmo os mais pobres têm em casa coisas que milionários de séculos ou décadas atrás achariam impossíveis. Olhe ao redor. Quase tudo o que você tem em casa já foi considerado luxo um dia. Telefone celular, por exemplo. Na novela Pedra sobre Pedra, de 1992 a perua Rosemary ,interpretada pela atriz Elizângela,chega de helicóptero à pequena cidade de Resplendor, esnobando todos por possuir a grande novidade da época: um telefone celular muito mais feio e pesado que o aparelho mais barato dos dias de hoje.
Essa popularização aconteceu não só com os eletrônicos. Cortinas eram artigos reservados para palácios reais até o século 17, chegaram aos aristrocratas ingleses no século 18 e a classe média no auge da Revolução Industrial. Também foi assim com relógios de parede, pratos de porcelana, café, açucar, copos de vidro, móveis, vestidos, casacos, camisas entre outros.
O chá, por muito tempo foi uma raridade caríssima trazida do Oriente, era guardado nas casas inglesas em caixas metálicas com cadeado, abertas pela dona da casa somente ao fim do encontro com as amigas (daí vem o costume da conservá-lo em caixas de latão). No século 19, o produto já estava incorporado à dieta diária dos traballadores ingleses.
Mas nem todos os efeitos da Revolução Industrial são positvos. Se é verdade que o capitalismo fez luxuosidades chegarem ao dia dia dos pobres, tornou o trabalho infantil desnecessário e transformou a fome em problema de abundância, ela também gerou consequências menos satisfatórias. Uma delas foi a proliferação dos intelectuais. Ao libertar as pessoas do trabalho do campo e dar força às industrias de entretenimento, a Revolução Industrial mutiplicou o número de indivíduos que poderiam se dar ao luxo de passar a vida em bibliotecas e escolas discutindo ideias - e reclamando ( que grande ironia ) dos terríveis efeitos do capitalismo.
O que se passa nos dias de hoje é uma exagerada aquisição de bens nas mãos de uma única pessoa ou instituição, onde a ganância do querer, sem pensar em dividir.
Tá aí uma linha tênue e delicada, que pode gerar muita polemica desde uma compra simples até uma demarcação de terras.
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