segunda-feira, 16 de maio de 2016

Cabala : Misticismo Revelado




Qual a origem do Universo? Por que estamos aqui? De onde vem a vida? O que acontece depois da morte? Imagine se você pudesse fazer todas essas perguntas diretamente para a autoridade máxima no assunto. Isso mesmo: que tal ter uma conversa com Deus e ouvir dele todas as respostas? Agora imagine que as respostas já existem, e foram passadas de geração a geração por um grupo de sábios estudiosos, do início dos tempos até os dias de hoje. Pois essa é a definição da cabala: uma revelação feita por Deus para os homens, capaz de esclarecer todos os mistérios que rondam a humanidade. Conheça aqui a história do misticismo judaico e saiba como a cabala está conquistando o planeta.

Não há consenso sobre o momento em que a cabala foi revelada ao homem, mas todos os cabalistas concordam que o ensinamento sagrado veio diretamente do Criador, assim como os 613 mandamentos judaicos contidos na Torá, a bíblia judaica, que os cristãos chamam de Pentateuco. "A cabala é além do tempo, ela não tem nem começo nem fim", diz o rabino israelense Joseph Saltoun, ex-professor do Centro de Estudos da Cabala, em São Paulo, e que hoje leciona em Vancouver, no Canadá.
Mas, afinal, o que é a cabala? Bem, para tornar mais simples a tarefa de explicar, vamos começar dizendo o que ela não é. Ok, cabala NÃO É religião, autoajuda, superstição, magia, bruxaria, sociedade secreta, meditação, adivinhação, interpretação de sonhos, ioga, hipnose ou espiritismo, embora possa estar relacionada a todas essas coisas. Agora fica mais simples entender o que a cabala É: um conjunto de ensinamentos sobre Deus, o homem, o Universo, a Criação, o Caminho, a Verdade e coisas afins; uma revelação de Deus para o homem. "Ela nos diz por que o homem existe, por que nasce, por que vive, qual é o objetivo de sua vida, de onde vem e para onde vai quando completa sua vida neste mundo,"nada acontece por acaso. Existem leis de causa e efeito. Assim como existem leis físicas como a lei da gravidade, existem leis espirituais".


Tradição oral

Seja qual for o primeiro e privilegiado homem a ter recebido o conhecimento esotérico da cabala, ninguém discute que os ensinamentos foram transmitidos oralmente ao longo de muitas gerações, até que alguém resolvesse eternizá-los na escrita. Os primeiros escritos conhecidos com referências a esses ensinamentos datam do século 1. São livretos reunidos numa coleção chamada Heichalot ("Os Palácios"), que versam sobre os passos necessários para ascender evolutivamente através de 7 palácios celestiais, com ajuda de espíritos angelicais. Mas os livros mais importantes da cabala são o Sefer Yitizirah (Livro da Criação) e o Zohar (Livro do Esplendor), ambos de origem incerta. O primeiro teria sido escrito no século 2, mas seu autor é desconhecido. No caso do Zohar, a situação é ainda mais complexa. Para alguns cabalistas, ele foi escrito pelo rabino Shimon bar Yochai, também no século 2. A maioria dos estudiosos, porém, acredita que o Livro do Esplendor seja de autoria do escritor judeu-espanhol Moisés de León, que divulgou os manuscritos no século 13.

Não eram muitos, portanto, aqueles que se tornavam mestres e davam continuidade à transmissão do conhecimento oral. 
Para boa parte dos cabalistas, as restrições tinham uma razão clara: o público não estava preparado para receber esses ensinamentos. "Esse é o principal motivo para a transmissão restrita", opina Mecler. "Hoje, a evolução da ciência ajuda a compreender muitos dos ensinamentos antigos", diz. Mas o motivo de tanto segredo não era somente a escassez de discípulos ideais. Em diversas épocas, por razões diferentes, os judeus foram proibidos de professar publicamente sua fé - a perseguição aos cabalistas atingiu o clímax no século 16, durante a Inquisição espanhola.
Durante o Renascimento, a cabala despertou interesse de grupos místicos cristãos, intrigados com a compatibilidade entre as duas tradições. O resultado foi a criação da cabala cristã (ou católica), que levou novos níveis de interpretação aos textos sagrados cristãos. "Considero Jesus um mestre de cabala", diz Mecler. Um sincretismo mais profundo resultou no surgimento da chamada cabala hermética, que reúne ensinamentos de gnosticismo, alquimia, astrologia, religiões egípcia, greco-romana e pagãs, tarô, tantra, maçonaria, hermeticismo, neoplatonismo, hinduísmo e budismo, em uma espécie de síntese de todas as tradições místicas ditas autênticas. Outra variante é a cabala prática, que trabalhava com o uso da magia, incluindo a criação de amuletos e encantamentos, e teve seu apogeu na Idade Média



A cabala no tempo Conheça a evolução da corrente mística judaica, da criação do Universo até os dias de hoje  
Criação
Origem - 3700 a.C.
Deus cria Adão. Há quem defenda que ele teria sido o primeiro conhecedor da cabala, obtida diretamente do Criador.

Patriarca - 1800 a.C.
Nasce Abraão, patriarca dos judeus, dos cristãos e dos muçulmanos. Para alguns, ele seria o primeiro conhecedor da cabala.

Êxodo - 1500 a.C.
O profeta Moisés teria recebido a cabala diretamente de Deus no monte Sinai, juntamente com a Torá e os Mandamentos.

Templo - 516 a.C.
É erguido o Segundo Templo em Jerusalém. A chamada Torá Oral é transmitida ao longo dos anos.

Formação
Diáspora - 70 D.C.
Perseguição romana e destruição do Segundo Templo. Segunda diáspora. Cabala é mantida em segredo.

Palácios - Séc. 1
É escrita a coleção de literatura judaica conhecida como Heichalot ("Os Palácios"), que inspirou motivos cabalísticos.

Manuscritos - Séc. 2
É escrito o livro Sefer Yitizirah, a obra mais antiga do chamado esoterismo judaico. Segundo a tradição, é escrito também o Zohar, no idioma aramaico, pelo rabino Shimon bar Yochai.

Título - Séc. 11
O termo cabala passa a ser usado para identificar o misticismo judaico. Não há consenso se o pioneiro nesse uso foi o filósofo judeu Shlomo ibn Gevirol ou o cabalista espanhol Bahya ben Ahser. 

Expansão
Redescoberta - Séc. 13
O Zohar é descoberto (ou escrito, segundo alguns estudos) e distribuído pelo escritor judeu-espanhol Moisés de León.

Renovação - Séc. 16
Sábios cabalistas refugiam-se na cidade de Safed, em Israel: entre eles está Isaac Luria, criador da cabala luriânica. 

Vivência - Séc. 18
Fundado pelo rabino e místico judeu Baal Shem Tov, o judaísmo hassídico, ramo ortodoxo que prega a vivência mística da fé judaica, populariza uma forma mais simples de cabala no Leste Europeu. 

Tradução - Séc. 20
O rabino Yehuda Ashlag, fundador do Kabbalah Centre de Israel, completa em 1922 a primeira tradução do Zohar para o hebraico moderno. Em 1984, Philip Berg funda o Kabbalah Centre de Los Angeles. 

Ao acompanhar esta linha do tempo, você vai notar algumas discrepâncias entre os que dizem as tradições judaicas e a opinião dos estudiosos. O caso mais exemplar é o do Zohar: no século 13, Moisés de León distribuiu a primeira versão escrita da obra, alegando que havia encontrado os manuscritos originais, do século 2. Conta-se, porém, que um homem rico ofereceu à viúva de Moisés de León uma alta soma de dinheiro pelos originais. Desolada, ela teria confessado que seu marido era o verdadeiro autor.
Uma verdade, muitos caminhos 
Cada misticismo tem seu próprio método para chegar até a Verdade. Mas a essência é a mesma. Veja aqui as semelhanças e diferenças entre 6 correntes místicas 


CABALA

O que é - O misticismo judaico é baseado na crença de que todos os segredos do Universo foram revelados por Deus, de forma codificada, na Torá. Os cabalistas procuram desvendar esses segredos.
Principal texto - Distribuído no século 13 pelo rabino Moisés de León, o Zohar ajuda a explicar os ensinamentos ocultos na Torá.
Principal patriarca - Abraão, embora não haja consenso se o primeiro conhecedor da cabala teria vindo antes (Adão ou Noé) ou depois (Moisés).
Entidade máxima - Ein Sof, o Deus-Infinito, que criou o Universo usando as 22 letras do alfabeto hebraico e as 10 emanações chamadas de Sefirot.



GNOSTICISMO
O que é - Gnose é um tipo especial de conhecimento, uma espécie de saber profundo. Ligado à história do cristianismo, o gnosticismo possui elementos pagãos e outros sincretismos.
Principal texto - Escrito por volta do séc. 2, o Pistis Sophia relata os ensinamentos de um Jesus ressuscitado aos apóstolos.
Principal patriarca - Para os gnósticos, Jesus Cristo é o maior mestre de todos os tempos, mas não é considerado o próprio Deus.
Entidade máxima - O Absoluto. Num conceito próximo ao do Ein Sof, Ele também tem emanações, conhecidas como "Æons"




SUFISMO
O que é - A palavra remete à ideia de pureza. Enquanto o islã crê no encontro com Deus após a morte, o sufismo defende essa possibilidade ainda em vida, por meio de uma experiência mística, chamada irfan.
Principal texto - Escrito no século 11 pelo sábio persa Hujwiri, o Kashf al Mahjub ("Revelando o Velado") discute os principais conceitos sufistas.
Principal patriarca - O profeta Maomé teria transmitido os ensinamentos sufistas àqueles que poderiam experimentar um encontro com Alá.
Entidade máxima - Seguindo a tradição islâmica, Alá é o único Deus, embora tenha uma coleção de nomes, assim como acontece na cabala.

RAJA IOGA

O que é - Originado no hinduísmo, o raja ioga ("ligação", em sânscrito) também está presente no budismo e consiste em disciplinas mentais muito além das práticas mais conhecidas no Ocidente.
Principal texto - Os textos hindus conhecidos como Ioga Sutra explicam os meios de atingir o Samadhi, que seria a união completa com Deus.
Principal patriarca - Não tem. Entretanto, uma figura histórica importante é Patañjali, autor dos Yoga Sutra e de outros textos filosóficos.
Entidade máxima - Brahman é para o Ioga a Realidade Eterna, Infinita, Imutável, Origem e Identidade de tudo o que há no Universo.



ZOROASTRISMO
O que é - Misticismo surgido na antiga Pérsia, baseado nos ensinamentos de Zaratustra. Dizem que os iniciados detinham o conhecimento místico necessário para dominar as forças da natureza.
Principal texto - Chamado Gathas, traz versos que exploram a essência divina da Verdade, da Mente Sadia e do Espírito de Justiça.
Principal patriarca - O profeta Zaratustra (ou Zoroastro) viveu em algum momento entre os séculos 16 e 10 a.C. e teria sido o autor do Gathas.
Entidade máxima - Chamado por Zaratustra de "o Deus não criado", por 

ser a origem de tudo, Ahura Mazda é onisciente, mas não onipotente.



TAO
O que é - Profundamente dualista, o tao prega o caminho do equilíbrio entre os eternos opostos. Viver em harmonia, agindo com sutileza por meio do "não agir" (wu-wei), seria a chave para atingir o Tao.
Principal texto - O Tao Te Ching ("Livro do Caminho e da Virtude") serviu de inspiração não só para o taoismo, mas também para o zen-budismo.
Principal patriarca - Autor do Tao Te Ching, o reverenciado Lao Tsé (o nome significa Velho Mestre) é envolto em mistérios. 
Entidade máxima - Verdadeira natureza do Universo, o Tao o precede e o abarca completamente. Não personificado, confunde-se com o próprio Caminho.


Fonte: Superinteressante

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